23.11.10

Vem

amor dará, desde que que não se cobre
por um peso inconquistado da matéria,
sob a arma maléfica de transar alegórico,
desde que não sacrifique a poligamia,
aquela instântanea de se ser outrem.

nem que desfibrile este tecido de desejo oculto,
ou recorra à justiça do coração manso,
ou cuspa no imenso lago que se fomenta de tristeza,
porque quero e não te quero aguçada por mim,
na ordem em que eu mesmo nomeio contraponto.

quero que tu me afagues agudamente,
com a sua agressividade num laço bravo,
num ato de me esmagar na semântica, quero que entres
e te retires de tua ética, quero continuar quente
aquecido por minha etéreas companheiras.

e aponta meu custo por onde quer que aponte,
não quero me logre minha grécia interna,
ou mesmo me deixes de amor com teus beijos,
com tua fava ao se desmanchar em pétalas.

Planos.

Cantou beatles, comeu madonna,
um bom caviar, manga com leite e mocotó,
acordou bem, com um tiro na perna,
e um recado de adeus dos pais.

Reciclou quinze quilos de plástico,
foi ao pedicure depois de três anos,
bebeu absinto, tomou ácido lisérgico,
e mais tarde sentiu dor de barriga.

Chegou em casa vindo da universidade,
estava de cara, sem massa, sem diazepam,
sem nada, senão a sua cura, sua cuca
desesperada, cansada, ociosa.

Jamais pensou em usar película,
tinha um ipod, e hoje mesmo o trocou por uma arma,
queria assaltar um banco, comer jennifer lopes,
achar ouro em minas gerais e virar estrela,

mas o cinema não coube na sua mesa,
e seu carro, sem gasolina, sua a alma sucumbiu,
a polícia aplicou multa, o rato roeu sua cama,
sua mulher o deixou esperando na igreja...

está preso.

Fanta.

quis ser bem consigo mesmo,
acabou morto na praça da sé,
enquanto marcelino falou bem alto,
antes era somente o rei da grécia,

e se tornou heróico no vietnã
depois na fórmula um da bélgica
e compos um samba com jobim,
comeu os pastéis paulistas,

fumou maconha, cheirou cocaína,
sempre achou que isso era suicídio,
mas está vivo, que pena:

casado, empregado
e triste.

Cass.

Pois que pingo por dias, sem me gastar,
metros cúbicos de malabares no amor,
como pera como se comesse você,
deitada, roubada por mim.

aí, me derreto na metafísica louca
de nosso anticontato religioso,
no avesso que me entrego todo dia,
nas palmas da antígona em meu banheiro!

Eis que me trago como quero te carregar
no quis diáfano de meu cais romântico,
no sempiterno terno engomado,
entre seu perfume marquês.

Suicido no sadismo que ejacula
aquele paraíso na sua vala faminta,
e busco pão, e arroz, e açúcar e cigarros
no canto de seu coração bruto, feito um tijolo
de matar, de cansar, de torrar.

Cachê.

Sonho no sonho não cabe,
nunca coube nos meus fígados de embriagado,
nas minhas taras taradas, nem por sob as minhas calças
inibidoras de nossos proveitosos anseios sexuais.

nunca coube por que sempre quis entrar
em suas nalgas, cansar de amor, e repetir,
passar trotes e porres em um tal de diego,
meter-me por entre seus sutiãs
num mergulho desses.

quero a biles, o ouro
a caça, não matar o touro, o bosque
a bolsa de nova iorque, o corte de barba,
a transa, tudo muito sem fatalidade.

não me reino na pássara passada
de quando me morgo na paula,
na casa de um amigo pirado,
subindo pelas paredes.

30.10.10

balde

eu peixe no seu pé frio,
como quente aquele meu pensar
que penso na sala de jantar com você,
a gente combina e nem sabe,
e nem quer, quer não.

eu abro minha coca-cola
e grito ah! eu não paro de jantar
conosco na selva de minhas idas marinhas,
na cascata da vontade de nada, nadar em você.

e digo que posso possuir
nunca mais me esquecer ou que nunca
quis, ao menos, receber a noite,
quando a noite vier consigo
e a sinfonia que não queríamos.

Saudades não

e mais me seduzo
pela sensação de senti-la,
apenas mentalmente,
na corrida de meus empenhos,

quero me guardar pra outra vida,
e se puder, ainda, me agarrar comigo
e me sentir mais consigo por que sinto
que não poderíamos desistir,

quero me rechear metanfetamina,
e ser tocado pela breve alma
dessa lisergia, que antes
nunca pude entrar.

quero rechear minhas viajens,
com um eterno não te encontrar,
e partirei com um adeus nosso e um beijo,
com meu meu ósculo parnasiano e nunca mais.

21.10.10

Marcha em ré.

Não tem jeito, não,
eu vou me consumir,
eu quero é esquecer de mim
pra poder me relembrar,

Pra poder me festejar
e me encantar com essa bamba
esse bom coco a me reembolar
daquele sino quando me sinto
a toca tocar tão festivo,

ai teresa,
esse março de canção dizendo
na europa, meu amor, vamos lá!


pra não voltar descalço,
eis que pelas quedas da cachoeira
vou comer o mississipi, eu vou,
eu vou no samba da beira do bar.

é uma duas três
e me sinto esse café todo,
esse colo impenetrável da paixão,
sou eu pedindo: pelo amor de deus, não!

13.10.10

Sem ritmo.

Me ocorre nesse desespero
que nem nos tocamos,
mas eu espero, espero
que espere...

até aquela manhã,
quem sabe ou não se sabe nunca,
e depois aqui acolá e lá?

eu não me esqueço
de sempre te esquecer
quando me vem

nada de você.

12.10.10

Desistência.

Se eu não escrevesse pra você
das barbáries cardíacas, tudo bem,
pois, minhas atrocidades amoráveis,
caem bem no juízo de me acabar,

Quando a nossa informaticalidade,
em que meu peito supõe não nascer,
não passa através de meus próprios pés,

Como que de manhã morresse
e minha pátria, minha sã consciência gritasse
quanto me ardeu ir sem it.

Cabe um milímetro da sede que nos vem
e cabe a orquestra mimética que nos suborna,
nem tuas ideias quase metódicas
nem o esquecimento arrasado.

26.8.10

Locus.

Está aí o momento da praça:
solteiros largados, é a praça!
fumantes viciados, é a praça!
a praça é a academia dos orixás,

no entanto, é a praça que manda agora!
a nossa faca, homem, é que está no corte,
não é a cara da soberania duvidosa!
Que fique o agredido por tudo
(é a antilei!)

Os carros que não passam pela praça,
passam pela alma dos paralepípedos,
passam pela pequena cidade
que também é uma praça.

Aqui passam seres falantes e caminhantes
que comem gente como aveia e trigo
nos pequenos bancos da praça

e me chamam de margem da sociedade
porque vos digo: está lançada a armada:
com certeza, a nossa priori é a praça!

22.8.10

Toque.

Filme porque o filme percorre seu corpo,
porque percorro seus ombros cinemáticos
com meus hábitos de homem carnívoro,
como um muito grotesco mecânico 
das engrenagens do amor.


Porque filme 
como arquiteto da urbanidade dos sexos
e o cientista  da antropologia da cópula
e as estatísticas casuais dos prazeres.


Porque quando fuma
toca a fundo o céu de meu inferno
e minha cúpula insensata.


Meus dias de amarelo contemplativo,
Dias de graças: púrpura só pra te ver passar
com a banda, que sempre quis, a tocar


na cela de meus pensamentos, olha você!
E meus ciclones de pensar amar colher
castigos de um quimérico esfrega 
da gente como come e ejacula.

Carta.

Minha barba conota as saudades que não digo sentir
Que essas saudades evaporam a loucura de meu ser 
guardanapo guardo uma só surpresa:


sem a carne me resta banca de amante 
e um navio pelos mares que junto da cvc
quero ir cantar de fininho pra você:
meu amor, meu amor


tu és lá lá lá
um tal roque bacana, um iê iê,
um bem-bom abraçado,
uma música de Elvis,
uns dias de Élis,
cartinhas Vis!

For.

É tecer mais uma lupa
que me preocupa no saco - 
se entra na sua sala de entrares
peço que fique e durma


eu quero ter uma ilha com você,
por isso não às portas, não!


Quero que São Paulo more
e morra em nossos lares de jasmim.
Vivamos naquele sempiterno café, 
no meio de uma tarde e uns cigarros da vontade,


pra não parar nunca de pensar
que maré só na bahia porque a minha cara alagou
nas alagoas de seus lábios brabos
e você é a baianada ou o nego bom
que mata a guerra a fome a cegueira


e quem dera desafogá-la na dodecafonia 
ida visitada em volta de meu coração -
quando bebi na casa de meu sogro: 
cada talher em seus devidos lugares.


Aquele gordo barbudo cantante 
e coxa e louro e papagaio e carteiro -
é... meu sogro não presta mesmo: 


meu sogro me acusa na ceia natalina,
meu pai me liga dia e noite e eu não atendo. 


Mas nego ser o tal criminoso
atrasando o progresso e o crepúsculo da nação
e não entendo porque ainda sou tanto minha mãe,
minha mãe e seus castigos freudianos.


Sei de minha futura e sem lei bem gerada geração:
meus ingratos pela super-bossa-nova e bazin e coca-cola
e pelo cinema do inconveniente cheio de erotismos.


Entre ventres e países asiáticos,
há Doutores e Dramaturgos e Fotógrafos
que acabam com minha cinédia.


Quem me dará algum socorro, socorro
e algum sucesso? aguardo e aguardo 
- é necessário praticar o desapego
e enquanto isso, 
isso como todos os dias. 


O que penso o que penteio
o que presenteio
meio a meio.


Meu sogro não presta mesmo!

4.7.10

Bom de orla

e me dê um golaço ou um grande gole,
que eu quero rebater esta penúltima lágrima,
esta cachoeira de minha ida matéria.


bate querubim,
eu nem te conheço mas me sinto,
um joão jobim na levada bem boa,
que me quero completamente pasquim.


no terreiro verdadeiro de berimbau
e me sentir bahia dentro e lá fora,
no passeio da graça ida
que tenho vindo.


soa soa pandeiro,
bem alto e sacanagem na laje,
a noite inteira meu querido sambeiro,
vamos descer o rio pelo pernambuco.


eu bebo o mangue ou sangue da gente
como quem fruta fruta de doce palavra,
quero ser marciano do burguês
amigo do proletário.

3.7.10

Sem título

Rompe na minha favela
um sequestro do engano que restara 
entre eu e a minha amada tão amada


pois minha trufa de canto desencanta
porque desafino grosseiro e canto tristeza
quando me caibo no buraco que pude sair


sempre me quis cogitar numa sensação estrangeira
de um nado sem sincronia num contra plongée 
para ter acesso ao teu paraíso virgem


sei sabendo de que meu canto (este canto)
nunca pegará na rádio dos anos vinte
mas quem sabe nas favas de poesia
que correm de mim.

Sem título

Dos inacessos urbanos
a fome branca dos gatos de rua
o sono catarse dos desastres humanos
à face do barro como quem mandioca murcha


no recreio sem bola de meia e priori
passou meia hora para repensar a vida inteira
e na minha horta que pena não chove alegria
sobra gente nua na beira da estrada


e de triste que me senti
não quis lá de saber as regras
a gramática do desespero é a única
que me acude.


Sem maquiagem na festa dos esfomeados
que curtem aquela casa amarela que é nossa
e que por ser nossa mesmo falta amor
é um asilo de abraços perdidos


de esquecidos anoitecidos
bebidos por nós
assassinos
de nós.  

29.4.10

Exercício.

Quero sentido que faça sentido,
palavra que não fala da Palavra falada.
Resquício que mate a minha fome,
que me mate quero droga que drogue,

Deixe também apertados meus rins,
minhas narinas consumam, engulam meu coração,
quero um infarte de cinema, sem teima,
morrer sem medo de morrer e ir mais,

mais que antes pensava sobre a morte,
encontrar com jesus e poder cuspir
minhas décadas de sobrevida,
cheia de vidas e mais vidas idas,
 
eu fumo por que não tem solução
pra ir mais tarde como eu queria menino,
não dará tempo de ser a tara e a discórdia,
o completo bem da vida e o inferno na vida,

mais tempo para o que é em mim repetido,
eu quero continuar num loop sem fim,
bebida todo dia, novas pessoas, sempre!
Jamais, pois, pessoas velhas Que morram em mim.

 


Sexta-feira, 29 de Abril de 2010.

Óculos côncavos.

Se nos tomamos como breves animais,
então terei de engoli-lo vivo, sangrando,
depois a sua mulher e o grande presidente,
que manda na república interna da casa,
é o pai da greve, gosta é da farra,
comer e beber a noite inteira.

Quando fui em Feira,
exaurido pela pacacidade,
cheguei na cidade indo e voltei
antes do meio dia, sonhei que lá nada tinha,
senão, chão e mais chão sem caminho.

Eu me provoquei dias de perdido,
e na selva encontrei pouca coisa que sabia,
encontrei uma água que não embebe,
e sabão que não espuma, coca uva
e um beque que não bate.



23 de Abril de 2010.

Descrição.

No mais, respeitamos ao menos o espaço
e suas consequências mais severas,
quiçá, estúpidas, comemos
e deitamos nesses escombros eternos,
andamos rastejados, cinco vezes ao mês.


Meus dias são a penitência que nunca quis,
morando sem prédios, sucesso
e algo mais, sem sexo,
digamos, tem sido quase sem nexo,
é por isso que rimo feiamente.


Queremos pais que tragam paz
e eu me sinto metade sim, metade não,
ou qualquer coisa pouca
que não me basta nem para sede,
a sede de tomar uma kaiser ou as serras todas
de açúcar:


álcool por álcool, remédio por remédio,
tédio por tédio, tabaco por tabaco,
anda tudo muito repetitivo, ainda,
ele era meu amigo antes de ser amigo,
inimigo antes de nascer e ser vivo.
 



23 de Abril de 2010.

22.4.10

Maestria.

Quem me espera prosa é,
bate nas palmas da alegria e bis,
pede coisa que não posso, 
o desejo que não tenho.

Quem arrisca prosa é
porque canta no fio da meada
e cai, cai bem caído, respira,
espirra a sua derrota.

Samba quem canta é prosa
porque prosa é bolero,
e nada cai bem,
como a lapa.

Quem prosa rebebe,
quem fuma, perfuma poesia,
prosa é, ou prosa não, se for de cara
e de bico cerrado.



17 de Abril de 2010.

Classificado.

O meu porto se desmancha
nas águas riscadas do rosto, menina,
O meu moço bebe tonteiras de leite,
caviar e coisa que se come na transa.

Uma morena feiticeira, gosto mais dela
que de mim, meu mundo eleito,
minha sobra bastarda de farinha e filé,
açúcar e doce de goiaba,
cabaça da senhorita de Petrolina, 

meu rato, meu roedor de romances,
aviva, aviva, nos meus sapatos
e na redondilhas que canto,
e sem saber rochedo escrevo,
meu dedo é eterno como sua alma,

meu estômago um nada a declarar,
em greve, não refeita as máscaras reginas
minha psique é a política parlamentar,
o mundo todo esquenta e nada muda.



17 de Abril de 2010.

Nós não temos culpa.

Mãe não tem culpa de nada,
o estado é que deveria me por no berço,
e dorme cidadão, quer leite de dólares?

Segurar a minha onda em casa
porque eu sou seu filho alcólatra.
Salvar-me das palavras de horror
ditas na noite em que não voltei.

Moro nas ruas de minha garagem,
uma garagem suíte pulsando sangue,
um rapto venenoso pulsando nas veias
corrente correnteza corrida nos meus braços;
ai, estado, me dê suas drogas políticas,
com toda a alucinação de ballantines sem gelo.

A arquitetura da filosofia na modernidade.

   O mundo do entretenimento frustrado e dos conceitos simples e passageiros - enlatados - trouxe um obstáculo (cabala) para o pensamento filosófico, um tecido de contraponto que atinge dimensões prejudiciais a essa corrente das ciências. A banalidade das ideias contemporâneas ofuscou a importância da filosofia quando pensamos na sua leitura, na interferência ao seu leitor e, possivelmente, na construção do pensamento moderno. Uma espécie de bloqueio no século que, se supossemos a ordem cronológica da história, deveria agregar e reconstruir conceitos adequados a realidade. 
   Exatamente o que não acontece. E essa problemática passa pelos jovens e adultos (menos instruídos, talvez) que refutam a clareza dos sentidos da filosofia habitual até os difusores da comunicação pouco preocupados com isso e, claro, a política pouco compromissada com o conhecimento de seus súditos e provedores. Necessitar destas destas práticas diárias e do bom senso usual com a delícia que o conhecimento nos traz parece algo distante de nossa moda temporária. Uma contra resistência à sabedoria, aliás, a busca dela. O que me vem logo quando penso nessa inconsistência da sociedade, é em termos do que seremos sem a inerência da racionalidade ainda mais forte nas tomadas do cotidiano. Parece pouco preocupante e, ao mesmo tempo, inimaginável. Mas o que é pensar filosoficamente? Os mais claros a definem como um processo que se inicia especificamente nas ideias primordiais, no mundo intelectivo e mesmo na sua própria gênese, questiona (e nem sempre responde) o que é a vida e seus signos. Geralmente, não nos sentimos aptos a Filosofia porque nos vemos distantes da verdade, e o quê e de quem seria a verdade, que não tomamos nunca, por uma posição pouco vaidosa, como nossa também e numa profunda recriação de si mesma. 
   Sim, caímos novamente no genérico, termo que também obstrui um tipo de coesão, estamos extamente no esquema que uniformiza o desconhecido. A exemplo disso temos, não a crença, mas as conveniências da religiosidade, que cobrem conscientemente as más execuções dos estados, a miséria sócio-econômica permamente, as diversidades absurdas entre nós de uma ou outra classe da sociedade, que justificam às cegas motivos das guerras cristãs, dos massacres étnicos e tudo mais adverso a nossa existência. Algo que em si se reforça, sem o saber, de uma filosofia bastante encrustada, bem elaborada num sentido ideológico, que subverte as grandes massas, segundo Karl Marx, em outras análises e numa viagem sociológica. Pois bem, a Filosofia está na base de todas concepções. Precisamos parar e sentir as necessidades desse pensamento, discutir com nossos semelhantes a respeito de suas inquirições, consentir inicialmente, depois fomentar antíteses, e logo sínteses, estabelecendo dialética, de modo simplório e claro. Filosofia contínua e, numa denominação extrema, instintiva, naturalíssima. Aproximar isso da nossa subjetividade para alçar novos caminhos, descobertas inéditas e compartilhá-las abertamente. Evidentemente, percebemos nesse instante o que significa a ciência filosófica e a que lugar chegaremos navegando neste rumo, sempre em transformação. Obstinadamente vive e sempre viverá no mínimo e no máximo das sociedades.

11.4.10

O cinema é língua.

   O cinema, sua linguagem característica e a congregação das mais diversas ações artísticas depois dos primeiros anos dessa arte major, é significamente heróico em termos culturais e sociais no mundo das expressões. Em outra análise a linguagem cinematográfica perpetua uma universalidade jamais vista pela modernidade. Principalmente décadas após a segunda guerra e o neocolonialismo europeu, abriu-se uma lacuna na maneira de ver a imagem e interpretá-la abertamente e, sem subverter a primeira ideia, cronologicamente. Ordenado porque rapidamente a tarefa do montador ganhou ânimos através das principais intervenções humanas na câmera e na sua maneira de ilustrar os objetivos da película. O cinema criou a ilustre plateia quando partiu do hábito homem demais de notar somente as grandes medidas e atingiu a efervescência dos detalhes mais tênues. Abarcou o planeta à medida que agregou a periferia de todas as suas sociedades.

   Soube lidar com outras linguagens por que com suas descobertas no campo técnico deu espaço ao áudio nos anos iniciais da televisão e a cor em meados dos trinta. Usou, portanto, com maestria as vertentes da música, as artes plásticas gritantes, a literatura  e com mais profundidade que no seu início o teatro de ator. Aos poucos, não haveria sequer parte das expressões artísticas que não fossem tocadas pelo cinema. Com isso não faltaram ares de recriação para os diretores incessantes dessa arte crescente. Surgiu um campo de mestres geniais e a massa foi-se formando paulatinamente, criando sua própria atmosfera. As nações do velho mundo e os estados unidos davam peculiaridades às suas produções. Formou-se, pois, as vanguardas: de Griffith e expressionismo alemão até o movimento neo-realista italiano. No antro das temáticas e de inovações dessa língua a liberdade achou seu espaço definitivo. O século avança maquinamente. De Thomas Edison nasceram as indústrias cinematográficas e isso repercutiu bem e nem tão bem assim para a corrente dessa evolução em ritmo acelerado. É claro que a censura tentou agredir essa expressão quase anárquica. Mas essas produtoras abriram as portas para grandes investimentos e, positivamente, nasceram os grandes filmes com cenários complexos e riquíssimos. Como em toda época, crescia também os impulsos da contra-cultura ou do contra-ponto - diminuindo as classificações históricas - que destruíam tudo e buscavam a libertinagem criativa de quando a tecnologia não movia tanta terra, como é o caso do Dogma 95 e suas realizações aparentemente alternativas: câmera solta, cortes abruptos e temáticas cruas e realistas. Poucas obras, mas objetivamente impactante.

   São dezenas de incursões vindas de todos os lugares. O mundo inteiro adentrou-se na arte do cinema. Índia, Irã, Paquistão, Japão, China e África do Sul, além dos países do segundo mundo na América Latina, a Europa Oriental e as promissoras potências da Oceania. Sem outras convenções o grande partido é a universalidade que coube tanto em empregar no seu campo semântico outras palavras, como dar subsídios notórios através da sua narrativa para a leitura íntegra de qualquer público. Uniu além as faculdades cerebrais num miasma motivado. O cinema não é moda e nem passagem. Revolução todo dia. Inovação sempre. Sapiente. Sempiterno.

27.3.10

Pedido aos meus irmãos.

Se me pusessem na ladeira da bahia,

eu me tornaria logo um joguete do amor,
e ao estalar dos tempos, morreria

e morrendo sim, pois homem
passado pela substância da vida,
sou de gritar e correr e fugir
dessa fulga irritante,

e comer destes pastos macios
que não nos cresce a vala do espírito
e acaba no raso do meu currículo
e dos beijos na menina da sidra,
da sidra que ontem tramava

porque não me tenho mais tempo,
tenho de ir e vir da escatológica viagem
entre vocês e mais um copo de licor,
quero sentir minhas mãos trêmulas

e seguir como seguia na minha terra
com minhas partes tiritantes e intinerantes
de um amor para outro todavia doído,
evidentemente, como os outros.

Mas que me passe esta ideia
de olvidar a bandeira branca e tomar guerra
e da guerra, eu quero morrer bem jovem
e que não me dêem sequer uma boa notícia.

Quero exalar a tristeza 
durante minha morte longa e dolorosa,
e de repente, meu bem, sorria, meu bem
agora sou só eu e você na casa das frações.

Des.

Todo mundo se encontra no inteiro,
de mundo sádico, de boas camaradagens - 
não serei um porco esquecido de ontem,
bebi demais, de noite bebi demais
e os faróis acesos, passe livre.

Ainda mantenho a consciência free
de que tive, por duas vezes, essa falta
e procurei nos pés do meu lobo particular,
nas tardes inesquecíveis, no meu claustro.

Os meus irmãos se rebelaram na faceta
daquele comunismo que não prospera
nem aqui dentro ou lá fora, cospe
e derrama na alma a prata

e da prata tiro o colar que lhe prometi
com a ferida de que se beija em público
a cara passada de um pouco moço, vadio
e diz: sim, eu ouço, mãe! eu ouço!

21.3.10

Fruto.

A sua importância passa a minha,
que não bebe do cálice do humor da vida
e seca na pastagem de áureo cultivo,
morre na garagem do óvulo materno

e sobra nos tantos vinhos da casa,
sedia a copa dos descontentados e tristes,
dos armários alegrados pela nova louça,
o sangue bebido pelos macroscópicos carrapatos,

minha importância bebe nos seus pés
a dignidade de quem nada tem,
ultrapassa os babélicos fortes de deus,
no canto do viúvo teórico, macarrão sem molho,

teoria sem contexto besta, ouvido límpido,
uva sem semente, castigo sem choro,
meu caminho anda sem passo
no passo em que passo
mais um dia aqui.

20.3.10

Mensagem II.

A minha prontidão é para os esmagadores
que flutuam sob minhas náuseas,
arregaçam meu colo e somem
nas últimas conseqüências 
de um filho prostrado.

Ba.

É claro que não deixarei seus pés 
comerem meus calcanhares limpos,
se é que você caminha mesmo na trilha
desses meus dedos tontos de amor,


se é que você canta metade gente,
no pânico da festa de ontem a noite,
não grite na palavra de meu umbigo
de vacilo na cabeceira da minha alma,


sou um tratado todo arrogante
entre o sem respeito com o castigo,
e sinto, sinto sua língua roçar no meu peito,
a minha calça erguendo o futuro
de inédito alcance da nação.

Homem depois.

A nova cidade que inaugaram em meu peito
vestia de casinhas ruidosas e de múltiplas mocinhas,
minha garagem lotava de boa praça e irmandade
e morria na estatura de um anão coqueiro


mas meu céu ilumina e paira homens a parte
quando lutam pelas doses destas negras vinhas
eu sou metido a cascudo etéreo, nordeste e ferreiro
mas manuseio máquina de pensar e fluir
nas asas desse rio sem ecotipo literado


na minha taça podia-se beber qualquer um
menos um famoso careta e descalço,
sempre exigi que tivessem peito aberto
e as armas correndo pelos narizes de oxum


e nessa calçada, nessa branca toda fardada,
encontrei a peça que liga meu íntimo falecer
à única condição de estar vivíssimo:
a minha bela e má conduta.

19.3.10

Jogatina.

No cassino estava aquela louca,
que viria moça no pacote de bunda
e cidadania integralista na palma
de seus seios pouco afetuosos,
toquei na alma de sua flor e no mar
de suas grandes pétalas virginais
surgiram abertas, usadas, aquém do bosque
paraíso e magnata da pura magia]

e ali eu estive na nobre sensação
de que a valer estou sim bem morto,
não tenho a sobra daquela rude virilidade
e a extremidade da volúpia do meu amor
ah... até esqueci de como se rima
na floresta magnífica do meu peito!

Sou das cabras e vacas deste mundo,
da ressurreição do brega, quero ser brega
e me tornei um político de extrema inexatidão,
aliás, quando me indagaram um pão, disse sim;
mas cigarro não, não! ofereço câncer
que me for conhecido pelo nome e pela dor

porque adquiri na baianidade
a breve resolução dos tempos modernos,
sou cinema sem linguagem e bêbado lúcido,
sou tarado sexual exótico e, por isso, ai meninas,
não me esmaguem com essa tara ainda maior,
meu falo é feito de ouro e craque e morfina!