26.8.10

Locus.

Está aí o momento da praça:
solteiros largados, é a praça!
fumantes viciados, é a praça!
a praça é a academia dos orixás,

no entanto, é a praça que manda agora!
a nossa faca, homem, é que está no corte,
não é a cara da soberania duvidosa!
Que fique o agredido por tudo
(é a antilei!)

Os carros que não passam pela praça,
passam pela alma dos paralepípedos,
passam pela pequena cidade
que também é uma praça.

Aqui passam seres falantes e caminhantes
que comem gente como aveia e trigo
nos pequenos bancos da praça

e me chamam de margem da sociedade
porque vos digo: está lançada a armada:
com certeza, a nossa priori é a praça!

22.8.10

Toque.

Filme porque o filme percorre seu corpo,
porque percorro seus ombros cinemáticos
com meus hábitos de homem carnívoro,
como um muito grotesco mecânico 
das engrenagens do amor.


Porque filme 
como arquiteto da urbanidade dos sexos
e o cientista  da antropologia da cópula
e as estatísticas casuais dos prazeres.


Porque quando fuma
toca a fundo o céu de meu inferno
e minha cúpula insensata.


Meus dias de amarelo contemplativo,
Dias de graças: púrpura só pra te ver passar
com a banda, que sempre quis, a tocar


na cela de meus pensamentos, olha você!
E meus ciclones de pensar amar colher
castigos de um quimérico esfrega 
da gente como come e ejacula.

Carta.

Minha barba conota as saudades que não digo sentir
Que essas saudades evaporam a loucura de meu ser 
guardanapo guardo uma só surpresa:


sem a carne me resta banca de amante 
e um navio pelos mares que junto da cvc
quero ir cantar de fininho pra você:
meu amor, meu amor


tu és lá lá lá
um tal roque bacana, um iê iê,
um bem-bom abraçado,
uma música de Elvis,
uns dias de Élis,
cartinhas Vis!

For.

É tecer mais uma lupa
que me preocupa no saco - 
se entra na sua sala de entrares
peço que fique e durma


eu quero ter uma ilha com você,
por isso não às portas, não!


Quero que São Paulo more
e morra em nossos lares de jasmim.
Vivamos naquele sempiterno café, 
no meio de uma tarde e uns cigarros da vontade,


pra não parar nunca de pensar
que maré só na bahia porque a minha cara alagou
nas alagoas de seus lábios brabos
e você é a baianada ou o nego bom
que mata a guerra a fome a cegueira


e quem dera desafogá-la na dodecafonia 
ida visitada em volta de meu coração -
quando bebi na casa de meu sogro: 
cada talher em seus devidos lugares.


Aquele gordo barbudo cantante 
e coxa e louro e papagaio e carteiro -
é... meu sogro não presta mesmo: 


meu sogro me acusa na ceia natalina,
meu pai me liga dia e noite e eu não atendo. 


Mas nego ser o tal criminoso
atrasando o progresso e o crepúsculo da nação
e não entendo porque ainda sou tanto minha mãe,
minha mãe e seus castigos freudianos.


Sei de minha futura e sem lei bem gerada geração:
meus ingratos pela super-bossa-nova e bazin e coca-cola
e pelo cinema do inconveniente cheio de erotismos.


Entre ventres e países asiáticos,
há Doutores e Dramaturgos e Fotógrafos
que acabam com minha cinédia.


Quem me dará algum socorro, socorro
e algum sucesso? aguardo e aguardo 
- é necessário praticar o desapego
e enquanto isso, 
isso como todos os dias. 


O que penso o que penteio
o que presenteio
meio a meio.


Meu sogro não presta mesmo!