22.4.10

Maestria.

Quem me espera prosa é,
bate nas palmas da alegria e bis,
pede coisa que não posso, 
o desejo que não tenho.

Quem arrisca prosa é
porque canta no fio da meada
e cai, cai bem caído, respira,
espirra a sua derrota.

Samba quem canta é prosa
porque prosa é bolero,
e nada cai bem,
como a lapa.

Quem prosa rebebe,
quem fuma, perfuma poesia,
prosa é, ou prosa não, se for de cara
e de bico cerrado.



17 de Abril de 2010.

Classificado.

O meu porto se desmancha
nas águas riscadas do rosto, menina,
O meu moço bebe tonteiras de leite,
caviar e coisa que se come na transa.

Uma morena feiticeira, gosto mais dela
que de mim, meu mundo eleito,
minha sobra bastarda de farinha e filé,
açúcar e doce de goiaba,
cabaça da senhorita de Petrolina, 

meu rato, meu roedor de romances,
aviva, aviva, nos meus sapatos
e na redondilhas que canto,
e sem saber rochedo escrevo,
meu dedo é eterno como sua alma,

meu estômago um nada a declarar,
em greve, não refeita as máscaras reginas
minha psique é a política parlamentar,
o mundo todo esquenta e nada muda.



17 de Abril de 2010.

Nós não temos culpa.

Mãe não tem culpa de nada,
o estado é que deveria me por no berço,
e dorme cidadão, quer leite de dólares?

Segurar a minha onda em casa
porque eu sou seu filho alcólatra.
Salvar-me das palavras de horror
ditas na noite em que não voltei.

Moro nas ruas de minha garagem,
uma garagem suíte pulsando sangue,
um rapto venenoso pulsando nas veias
corrente correnteza corrida nos meus braços;
ai, estado, me dê suas drogas políticas,
com toda a alucinação de ballantines sem gelo.

A arquitetura da filosofia na modernidade.

   O mundo do entretenimento frustrado e dos conceitos simples e passageiros - enlatados - trouxe um obstáculo (cabala) para o pensamento filosófico, um tecido de contraponto que atinge dimensões prejudiciais a essa corrente das ciências. A banalidade das ideias contemporâneas ofuscou a importância da filosofia quando pensamos na sua leitura, na interferência ao seu leitor e, possivelmente, na construção do pensamento moderno. Uma espécie de bloqueio no século que, se supossemos a ordem cronológica da história, deveria agregar e reconstruir conceitos adequados a realidade. 
   Exatamente o que não acontece. E essa problemática passa pelos jovens e adultos (menos instruídos, talvez) que refutam a clareza dos sentidos da filosofia habitual até os difusores da comunicação pouco preocupados com isso e, claro, a política pouco compromissada com o conhecimento de seus súditos e provedores. Necessitar destas destas práticas diárias e do bom senso usual com a delícia que o conhecimento nos traz parece algo distante de nossa moda temporária. Uma contra resistência à sabedoria, aliás, a busca dela. O que me vem logo quando penso nessa inconsistência da sociedade, é em termos do que seremos sem a inerência da racionalidade ainda mais forte nas tomadas do cotidiano. Parece pouco preocupante e, ao mesmo tempo, inimaginável. Mas o que é pensar filosoficamente? Os mais claros a definem como um processo que se inicia especificamente nas ideias primordiais, no mundo intelectivo e mesmo na sua própria gênese, questiona (e nem sempre responde) o que é a vida e seus signos. Geralmente, não nos sentimos aptos a Filosofia porque nos vemos distantes da verdade, e o quê e de quem seria a verdade, que não tomamos nunca, por uma posição pouco vaidosa, como nossa também e numa profunda recriação de si mesma. 
   Sim, caímos novamente no genérico, termo que também obstrui um tipo de coesão, estamos extamente no esquema que uniformiza o desconhecido. A exemplo disso temos, não a crença, mas as conveniências da religiosidade, que cobrem conscientemente as más execuções dos estados, a miséria sócio-econômica permamente, as diversidades absurdas entre nós de uma ou outra classe da sociedade, que justificam às cegas motivos das guerras cristãs, dos massacres étnicos e tudo mais adverso a nossa existência. Algo que em si se reforça, sem o saber, de uma filosofia bastante encrustada, bem elaborada num sentido ideológico, que subverte as grandes massas, segundo Karl Marx, em outras análises e numa viagem sociológica. Pois bem, a Filosofia está na base de todas concepções. Precisamos parar e sentir as necessidades desse pensamento, discutir com nossos semelhantes a respeito de suas inquirições, consentir inicialmente, depois fomentar antíteses, e logo sínteses, estabelecendo dialética, de modo simplório e claro. Filosofia contínua e, numa denominação extrema, instintiva, naturalíssima. Aproximar isso da nossa subjetividade para alçar novos caminhos, descobertas inéditas e compartilhá-las abertamente. Evidentemente, percebemos nesse instante o que significa a ciência filosófica e a que lugar chegaremos navegando neste rumo, sempre em transformação. Obstinadamente vive e sempre viverá no mínimo e no máximo das sociedades.