3.7.10

Sem título

Rompe na minha favela
um sequestro do engano que restara 
entre eu e a minha amada tão amada


pois minha trufa de canto desencanta
porque desafino grosseiro e canto tristeza
quando me caibo no buraco que pude sair


sempre me quis cogitar numa sensação estrangeira
de um nado sem sincronia num contra plongée 
para ter acesso ao teu paraíso virgem


sei sabendo de que meu canto (este canto)
nunca pegará na rádio dos anos vinte
mas quem sabe nas favas de poesia
que correm de mim.

Sem título

Dos inacessos urbanos
a fome branca dos gatos de rua
o sono catarse dos desastres humanos
à face do barro como quem mandioca murcha


no recreio sem bola de meia e priori
passou meia hora para repensar a vida inteira
e na minha horta que pena não chove alegria
sobra gente nua na beira da estrada


e de triste que me senti
não quis lá de saber as regras
a gramática do desespero é a única
que me acude.


Sem maquiagem na festa dos esfomeados
que curtem aquela casa amarela que é nossa
e que por ser nossa mesmo falta amor
é um asilo de abraços perdidos


de esquecidos anoitecidos
bebidos por nós
assassinos
de nós.